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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Por aí vai

-Oi.
Um ano, três meses e quatro dias depois ali estava ele. De todas as vezes que o imaginei em nenhuma delas cheguei próximo da descrição que darei adiante.
Imaginamos a felicidade que iremos sentir, mas no exato momento em que acontece não há tempo para imaginações, nem para qualquer espécie de pensamento. Nossa razão se baseia em um coração que acelera mais e mais, um sorriso que cresce no rosto e um brilho inexplicável no olhar.
-Oi-respondi, por fim.
- Pode entrar!
Ele já estava dentro, permitir fora apenas modo de dizer.
Quem pede permissão para entrar na sua vida? Caso peça, provavelmente não terá lá tanta importância por que a permissão inicial tornaria todo o demais muito racional.
Uma pele um tanto bronzeada, barba por fazer, olhos escuros. Ele é normal com alguma coisa de muito diferente.
O ser humano tem razão e é o único das espécies que a possui, mas por algum motivo buscam por aquilo que a razão não explica e adoram sentir-se novamente animais.

Ele sentou-se e começou a falar. Dizem que por aí que mulher adora falar mas, ao menos comigo, a teoria não se aplica: adoro ouvir, adoro quando me falam. Só que, naquele momento, eu só via uma boca se movendo, enquanto minha imaginação voava alto relembrando tudo o que passamos e também ansiosa pelo que ocorreria dali á diante.
-E foi isso que eu fiz todo esse tempo- terminou.
-Por esse sorrisão aí pareces feliz!
"Mais por agora do que por tudo de antes", disse ele.
"Por que você faz isso comigo?", pensei. Ops, disse.
-O que foi? Te fiz algum mal? - perguntou o portador da camisa verde.
Respondi prontamente que não. Estava muito nervosa.
-Podemos abrir esse seu vinho! Fiz um risoli pra gente!
Sabia o quanto aquele sorridente adorava comida italiana, sabia também, desde que o convidei, que traria um bom vinho.Nos sentamos, o servi, comemos, conversamos, rimos muito. Que bom tempo aquele. Uma pena o que estava por vir...
-Escuta, preciso te dizer uma coisa! - disse o garoto sorriso.
Permiti que falasse. Não deveria.
-Sei que a gente ficou esse tempo afastado, sei que aqui tá muito bom...
"Menos essa salada", brinquei, mas o tom e o olhar sério me fizeram calar.
-Sei que deves estar pensando no que será daqui pra frente, até por que eu e você não é pouca coisa. Se ficamos junto hoje, foi uma construção de tempos e tempos. Não vai se exvair em uma noite, entende!?
Fiz um sinal que sim, mas, na verdade, a resposta era não.
-Eu tô namorando! - disse, baixando a cabeça.
Ele sabe o que eu penso. "E o que você pensa?". Você, caro leitor, deve estar se questionando. Aí vai, meio óbvio, mas não suporto traição. Ele sabia que a partir do momento que eu soubesse não iria aconecer mais nada. Ele sabia disso. Mas será que ele queria mesmo que não acontecesse nada? Ou apenas quis ser honesto comigo?
-Você não vai me responder nada? - perguntou.
Olhei para aquele rapaz. "Que lindo ele é", pensei. "Mas, não, não posso".
-Sabes o que eu penso, né!?
-É, eu sei - respondeu o agora garoto cabeça baixa.
Ele se lamentou e disse que melhor seria ir, insisti que não, ele relutou mas por fim aceitou. Iamos assistir o filme, mas depois de quinze minutos de filme e um clima muito tenso, ele disse que precisava mesmo ir e foi.
Passaram-se alguns dias e nada dele, de novo.
"Que ódio", pensei, "Ele aparece um dia e já não me interesso por mais ninguém".
Até que tocou a porta. "Oi", ele. Ele e o sorriso de praxe.
-Tem lugar pra um solteirão na mesa?
Ele riu, eu sorri do riso dele e ele, mais uma vez, entrou, mas dessa vez não foi direto para o sofá se sentar. Diretamente foi até mim, a cada passo que dava, seus olhos me penetravam dois, até que quando se pôs bem em minha frente, calou qualquer pensamento meu.
A racional deu vazão a passionalidade de um beijo.
E por aí vai...