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terça-feira, 24 de março de 2009

Uma surpresa para Clara

Clara mal podia acreditar nos seus ouvidos. Ou no seu ouvido esquerdo, pois era neste que chegava a voz de Paul, através do fone.
-Clara, tu tá aí? Sou eu, Paul.
Quando finalmente conseguiu se refazer da surpresa, a meio alta e vivaz Clara esforçou-se para controlar a voz.
-Tu quer dizer o sujo, tratante, traidor, nojento, desprovido de qualquer decência ou caráter, estúpido e desprezível Paul?
-Esse mesmo. É bom saber que você ainda me ama.
-Seu, seu...
-Tenta porco.
-Porco!
-Por isso que eu gosto de ti, Clara! Você sempre faz o que eu mando. Agora te acalma.
-Porco imundo!
-Tá bom, agora te acalma. Me pergunta por que é que eu estou telefonando pra ti depois de tanto tempo.
-Não me interessa...
-Eu preciso de ti, Clara.
-Paul...
-Preciso mesmo. Eu sei que fui um burro, mas não sou orgulhoso. Me desculpa.
-Oh! Paul. Não brinque comigo...
-Você se lembra daquela semana na Praia?
-Se me lembro.
-Dos jasmins no pátio do hotel? Do queijinho com vinho tinto abrindo o jantar?
-Paul, eu estou começando a chorar.
-E daquela vez em que fomos nadar nus, ao luar, e veio uma mulher muito séria pedir nossos documentos e depois os três começamos a rir e a mulher acabou tirando a roupa tambèm?
-Não. Isso eu não me lembro.
-Bom, deve ter sido em outra ocasião. E as nossas conversas no fim de tarde?
-As conversas. As mesmas músicas que tocavam sempre mas pareciam diferentes.
-E a festa de aniversário que entramos por engano e eu acabei ficando amigo de todo mundo?
-Ah, Paul...
-Lembra a torta da dona Nana?
-Posso sentir o gosto agora.
-Qual era mesmo o ingrediente secreto que ela usava e só nos revelou depois que nós ameaçamos contar para o seu marido do caso dela com o garçom?
-Era... Deixa ver. Era manjericão.
-Tem certeza?
-Tenho. Ah, Paul, Paul... Não consigo ficar braba contigo.
-Ótimo, Clara. Precisamos nos ver. Tchau.
-Tchau?! Tchau?! Você disse que precisava de mim, Paul.
-Precisava. Eu tô fazendo aquela torta pra uma amiga e não me lembrava do ingrediente secreto. Você me ajudou muito, Clara, e...
-Seu animal! Seu idiota, sem coração! Seu filho...
-Clara, eu tô brincando, sua besta!

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